Com o avanço da ciência nas últimas décadas com relação ao diagnóstico e tratamento dos transtornos mentais, o Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade – TDAH está cada vez mais conhecido entre as pessoas.
É muito comum as pessoas acharem que por esquecer as chaves de casa com frequência, perder a carteira ou não conseguir focar por horas estudando tem TDAH.
Não é à toa que é o transtorno mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados.
Mas o que vejo no cotidiano é uma salada de fragmentos de informações que as pessoas tem sobre esse tipo de transtorno. Não é raro vários casos de crianças que são muito ativas serem confundidas com TDAH.
Mas afinal…
O que é TDAH?
Definição
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um distúrbio neurológico comum em crianças e adolescentes, mas que também pode afetar adultos.
O TDAH é um transtorno que afeta o autocontrole, a capacidade de prestar atenção e manter o foco, bem como a hiperatividade.
Estatísticas
Segundo a Associação Brasileira de Déficit de Atenção – ABDA, em todo o mundo, cerca de 5% das crianças e 2,5% dos adultos sofrem com o TDAH. Cerca de 70% dessas crianças apresentam outra comorbidade associada e 10% apresentam 3 ou mais comorbidades associadas.
Diagnóstico
Não há um exame médico que possa determinar com precisão se a pessoa tem TDAH, como conseguimos observar em exames de imagem por exemplo, mas um diagnóstico pode ser feito através da avaliação dos sintomas e do histórico de vida da pessoa.
Existem vários questionários que você pode responder, e de acordo com a pontuação ter um norte se você precisa procurar ajuda especializada ou não. Porém, o diagnóstico clinico só pode ser emitido pelo médico psiquiatra, neurologista ou neuropediatra.
Esse diagnóstico é feito através de uma longa anamnese onde esse profissional médico vai investigar de forma detalhada vários aspectos comportamentais e cognitivos.
Vou deixar aqui um modelo de questionário disponibilizado pela ABDA apenas para ajudar te orientar a necessidade de uma análise com o médico. Caso ache interessante uma avaliação mais imparcial, pode imprimir e pedir ao professor para preencher na escola.
https://tdah.org.br/wp-content/uploads/site/pdf/snap-iv.pdf
Causas do TDAH
Como dito acima, o TDAH é um distúrbio neurobiológico, consequentemente este distúrbio pode ser hereditário, sendo que 50% dos casos são transmitidos de pais para filhos.
O TDAH está ligado à disfunção de duas áreas do cérebro: o córtex pré-frontal e suas conexões com a rede subcortical com córtex parietal (Szobot 2001). Essas alterações neuroquímicas seriam responsáveis por uma diminuição no controle inibitório e por prejuízo das funções executivas, caracterizando assim os sintomas.
Muito importante lembrar que nem sempre uma pessoa que carrega genes com predisposição no seu código genético desenvolvera o transtorno. A exposição a toxinas químicas, álcool, tabaco e dietas ricas em açúcar e aditivos podem aumentar o risco de desenvolver TDAH.
Sintomas do TDAH
Os sintomas são divididos em dois grupos que são:
- Déficit de atenção;
- Hiperatividade;
Podem se apresentar também de forma isolada ou juntos.
Exemplos de déficit de atenção:
- Não consegue se concentrar em tarefas que não são interessantes, como lições escolares, tarefas domésticas ou tarefas profissionais;
- Não presta atençao em detalhes;
- Parece não estar ouvindo quando alguem fala com a criança;
- Tem dificuldade em organizar tarefas ou atividades;
- Se esquece frequentemente de objetos que serão importantes para alguma atividade;
- Frequentemente se esquece de tarefas rotineiras que já são habituais à criança;
Exemplos de hiperatividade:
- Frequentemente se levanta do lugar onde deveria estar sentado;
- Responde antes da pergunta terminar de ser formulada;
- Tem o hábito de correr com frequencia, até mesmo em locais inapropriados;
- O tempo que está parado balança as mãos, ou as pernas, ou se remexe na cadeira;
- Tem dificuldade aguardar sua vez;
- Frequentemente fala de forma demasiada;
- Tem dificuldade em se envolver em atividades de lazer de forma silenciosa;
Tratamento do TDAH
Após o diagnóstico, o tratamento vai depender de cada caso, dependendo do grau de comprometimento dos sintomas, histórico familiar entre outras variáveis.
As duas principais vias de tratamento são a medicação e a psicoterapia, onde a primeira irá reduzir os sintomas advindos de disfunções neurológicos e a segunda irá tratar comportamentos da criança no dia a dia e no meio social como dificuldade de ter foco nas tarefas, dificuldade de socializar, de se comunicar. Como dito anteriormente, é preciso analisar cada caso para criar o melhor plano de tratamento.
Medicamentos
Os medicamentos mais utilizados são os psicoestimulantes, como metilfenidato e anfetamina, que ajudam a aumentar a concentração e a reduzir a impulsividade.
No Brasil, o metilfenidato é considerado tratamento de primeira linha, comercialmente conhecido com o Ritalina®, RitalinaLA® e Concerta®.
É necessário enfatizar que esses medicamentos só podem ser prescritos pelo médico, pois possuem velocidades de absorção diferentes e cada um deles é empregado de acordo com as necessidades de cada caso.
Fonte: Metilfenidato no tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (tdah)
Terapia comportamental
O tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) por meio da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) visa abordar tanto os sintomas comportamentais quanto os cognitivos associados à condição. A TCC para TDAH geralmente inclui estratégias de manejo de comportamento, organização e planejamento, além de técnicas cognitivas para lidar com pensamentos disfuncionais.
Na TCC, o terapeuta trabalha em conjunto com o paciente para identificar padrões de pensamento negativos e comportamentos impulsivos. Isso envolve o desenvolvimento de habilidades de autorregulação emocional e de autocontrole. A terapia também se concentra em estratégias práticas, como a criação de rotinas, o estabelecimento de metas realistas e o aprimoramento das habilidades sociais.
Ao longo do processo terapêutico, o paciente é incentivado a reconhecer e desafiar pensamentos negativos automáticos, promovendo uma mudança na percepção de si mesmo e nas expectativas. O terapeuta auxilia na implementação de técnicas de organização e planejamento para otimizar a gestão do tempo e a execução de tarefas.
Embora a medicação seja frequentemente parte integrante do tratamento para TDAH, a TCC oferece uma abordagem complementar, ajudando a pessoa a desenvolver habilidades práticas e cognitivas para enfrentar os desafios diários associados ao transtorno.
Impacto do TDAH no dia a dia
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) pode ter diversos impactos na vida de uma criança, afetando seu desempenho acadêmico, relacionamentos sociais e autoestima.
Dificuldades de concentração e impulsividade podem resultar em desafios no aprendizado, prejudicando o rendimento escolar. Além disso, a impulsividade pode impactar as interações sociais, levando a problemas de relacionamento.
Crianças com TDAH muitas vezes enfrentam desafios emocionais, como frustração e baixa autoestima, devido às dificuldades que experimentam diariamente. O diagnóstico e o suporte adequados são essenciais para ajudar a minimizar esses impactos e promover o bem-estar da criança.
Dicas para conviver com o TDAH
Rotina
Mantenha uma rotina diária, planejando atividades e horários a seguir. Tente seguir uma rotina de sono e alimentação adequada, evitando açúcar e aditivos artificiais.
A rotina é essencial para qualquer um de nós conseguirmos conciliar produtividade com descanso. No caso do TDAH, se torna imprescindível pois um dos sintomas é a exaustão mental de tantos estímulos gerados pelo pensamento acelerado, somado à frustração de não conseguir terminar várias atividades que começou.
Hobbies e Exercícios
Praticar hobbies criativos pode ser útil para controlar os sintomas do TDAH e relaxar a mente. Além disso, exercícios físicos podem ajudar a regular o humor e melhorar a concentração.
Perguntas e respostas
O TDAH pode ser tratado, mas não pode ser curado? Verdade. Por se tratar de um transtorno neurológico, a ciência ainda não consegue proporcionar a cura. Mas não desanime! Os sintomas podem ser reduzidos drasticamente e se obter ótimos resultados com um bom acompanhamento médico e psicoterapia. |
Adultos com TDAH podem desenvolver depressão e ansiedade como resultado do transtorno? Verdade. Dependendo da gravidade do caso, das situações que a pessoa esteja vivenciando, pode sim evoluir para um quadro mais severo. Procurar ajuda é sempre a melhor opção! |
Pessoas com TDAH muitas vezes são mais criativas do que outras? Verdade. Quando recebemos alguns estímulos aleatórios, nosso cérebro tem a capacidade de filtrar e classificar cada estímulo tornando quase imperceptível e acabamos ignorando esses estímulos que não estão no interesse do momento. Já a pessoa que tem TDAH está mais acostumada ao caos mental. Ela está acostumada a prestar atenção em cada detalhe mesmo estando fora do foco do que esteja realizando. Dessa forma a criatividade pode sim ser mais aflorada devido está não estar presa aos padrões mentais que estamos habituados. |
Deixe seu comentário!