Para entender as 5 fases do luto no autismo, temos primeiro que entender o que é o luto.
É indiscutível que ele faz parte da vida do ser humano, e a utilização dessa palavra que mais conhecemos é a perda por morte, de um familiar ou amigo.
Mas o luto vai além da perda de alguém e na verdade tem a ver com a perda de algo que gostamos, podendo ser desde um objeto, à uma posição social, animal de estimação, perda do posto de trabalho ou ainda a impossibilidade de viver algo idealizado ou esperado.
Pensando dessa forma, o luto está mais ligado a um processo, ou travessia do que um estado e se caracteriza pelo conjunto de reações que temos frente a uma perda significativa.
Existem algumas etapas no processo do luto de uma forma geral, que não precisam acontecer em uma sequência exata, mas que de uma forma ou de outra vão estar presentes nesse processo.
Essas fases didaticamente enunciadas sobre a fase do luto, tem como base as experiências da psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross, em seu livro Sobre a Morte e o Morrer.
Vale ressaltar que, não é apenas na perda por morte que essas fases estarão presentes, mas nos mais variados contextos como citado acima.
O nascimento de uma criança traz consigo a idealização de expectativas, sonhos e anseios, sobre a vida desse pequeno ser, que diante de um diagnóstico de uma doença, deficiência ou mesmo transtorno do neurodesenvolvimento, coloca esse sonho em xeque.
Entretanto é nesse contexto que vemos que com o autismo não é diferente, a vivência do processo de luto. Ele se dá no momento em que se percebe que há comportamentos diferente do esperado e a impossibilidade de viver o idealizado.
É certo que cada um tem sua forma encarar a situação presente, desde as desconfianças de algo não está como esperado até o processo do tratamento.
Mas entender essas etapas pode tornar menos traumático e até mesmo facilitar o processo de aprendizado de uma criança, afinal, quanto mais cedo iniciar um tratamento, melhor será a resposta ao aprendizado.
Em qualquer dificuldade que temos na vida, é muito mais difícil quando temos dúvidas ou simplesmente não aceitamos que temos um problema. Esses passos com certeza podem te ajudar a entender melhor seus sentimentos e facilitar o processo de busca por ajuda especializada.
1 – Negação
Nunca nos preocupamos tanto com o êxito das nossas realizações como agora e quando algo não sai como esperado, uma das primeiras tendências que temos é negar que algo de ruim possa acontecer conosco.
Quando algum familiar levanta alguma suspeita, logo tentamos argumentar que a criança é tímida, que puxou para algum parente com aquela característica. Ou na escola, um professor diz que seu filho não se concentra, não interage e nos agarramos ao pensamento de que ele está com algum problema comportamental.
Algumas pessoas têm dificuldade em aceitar até mesmo após o diagnóstico e querem consultar outros especialistas, tentam ocultar de familiares e amigos e até mesmo esperam o tempo passar para ver se há alguma mudança no comportamento do filho.
O problema da fase de negação é que, além aumentar a dor da frustração devido o desenvolvimento do seu filho não sair como era esperado, ocorre um atraso no início do tratamento, podendo perder fases valiosas no desenvolvimento do filho.
2 – Raiva
“Por que isso está acontecendo logo comigo? O que eu fiz para merecer?”
“Só pode ser hereditário, e veio da sua família!”
Antes de julgar alguém que pense dessa forma, precisamos entender que o ser humano vive de idealizações. Sempre que tomamos uma decisão, já idealizamos o que queremos e como queremos, e quando as coisas não saem como esperado vem uma grande frustração e com ela algum grau do sentimento de tristeza, podendo vir junto a raiva.
Quando vem um filho, é natural já pensar nas roupinhas, nos acessórios. Já imaginamos a escola que queremos que ele estude, o esporte que ele vai praticar, a faculdade e assim vai.
E quando todo esse processo de idealização pode se ver água abaixo, vem um sentimento de tristeza, de dúvida, de incerteza de como as coisas vão decorrer na vida dos nossos filhos. E tudo isso pode levar à:
3 – Barganha
Essa é uma fase onde os pais ainda não têm clareza de como será a vida desse momento em diante. O sentimento de dúvida de como resolver essa dificuldade, somado ao pouco conhecimento sobre autismo, leva a pessoa a tentar resolver de qualquer forma.
É parecido com a fase da negação, mas, na fase da barganha, ela sabe que o diagnóstico é real, ela sabe que terá que enfrentas as dificuldades, mas pode tentar encontrar métodos que prometem resultados rápidos, ou qualquer outro caminho que faça aquele sofrimento cessar.
Tentar trocar os profissionais que começaram a trabalhar com a criança, levam em outro fonoaudiólogo, pesquisam outros psicólogos, compram um monte de brinquedos na expectativa de que consigam estimular a criança.
4 – Depressão
Com a confirmação do diagnóstico, as dificuldades que vão surgindo, a percepção de que a criança não está desenvolvendo como as outras, vem um sentimento de incapacidade, de achar que não vai ficar tudo bem.
Sentimento de achar que o filho não vai conseguir se desenvolver e ter uma vida feliz, se relacionar ou mesmo não conseguir cuidar de si mesmo. Pode surgir uma culpa que já é normal na maternidade, quanto mais em situações bem mais desafiadoras.
Nesse momento, é importante buscar apoio e informação de qualidade. Sair da zona de conflito emocional para encontrar soluções para as dificuldades que surgem.
Algo que agrava, é a falta de apoio e ajuda por parte dos familiares e amigos próximos. Mães solteiras, às vezes muito jovens ainda podem se sentir sozinhas, desamparadas e sem informação suficiente para saber o que fazer nesse momento.
Ajuda especializada acaba se tornando essencial para conseguir enxergar as possibilidades e como sair do sentimento de tristeza e ir para a próxima fase:
5 – Aceitação
E por fim, a ultima das 5 fases do luto no autismo, começa a constatação de vai ficar tudo bem, que você vai lutar junto com seu filho. Geralmente nessa fase, começam a vir resultados da terapia e a esperança de que ele vai continuar se desenvolvendo. Alguns casos, de forma lenta, em outros podem ser até melhor que o esperado.
Os pais começam a ver que seu filho tem chances de se desenvolver e se agarram nas possibilidades.
É muito importante na fase da aceitação permitir que ele se desenvolva no tempo dele, respeitar as metas dele, e não apenas as suas metas. É de suma importância passar confiança para a criança.
Lembre-se você não está sozinho nessa jornada. Todos nós passamos por processos de luto, mas o mais importante é sair dele com soluções que irão favorecer o desenvolvimento do seu filho sabendo que as 5 fases do luto no autismo faz parte de um processo e que vai ficar tudo bem.
Um abraço, com carinho Rachel Chaves.